Abril é o mês dedicado à conscientização do autismo, uma condição de saúde conhecida como Transtorno do Espectro Autista (TEA), que pode influenciar o desenvolvimento neurológico infantil. A identificação precoce e intervenções terapêuticas são cruciais para estimular o desenvolvimento de habilidades e desbloquear o potencial das pessoas com TEA.
A Unidade de Ensino e Assistência em Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Ueafto), localizada no Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade do Estado do Pará (Uepa), destaca-se como uma referência no estado para o atendimento a autistas.
Para ampliar o conhecimento da neurodiversidade das mentes humanas, a Ueafto realizou o II Encontro de Pais de Pessoas com Autismo, nesta terça-feira, 2, em alusão ao Dia Mundial de Conscientização do Autismo, celebrado hoje. A data foi criada no ano de 2007 pela Organização das Nações Unidas (ONU) com objetivo de informar e reduzir o preconceito em relação ao autismo. No Encontro, foram realizadas palestras sobre direitos, nutrição, exposição de materiais adaptados e relatos de experiências de familiares.
Aldeniza Viana Martins Ferreira, mãe da paciente Alice, de 10 anos, falou emocionada que "no atendimento aqui na Ueafto escutei da terapeuta algo que levo para a vida. Ela disse que não fala em dificuldades dos pacientes e sim, em desenvolver potencialidades para suprir necessidades".
A Ueafto é habilitada como Centro de Reabilitação tipo III (CER III) e conta com profissionais essenciais para reabilitar e tratar alguns dos desafios relacionados ao transtorno. Com atendimento exclusivamente pelo Sistema único de Saúde (SUS), entre os serviços ofertados aos pacientes cadastrados estão consultas em psiquiatria, neuropediatria, ortopedia, e acompanhamentos de terapias em diversas especialidades como fonoaudiologia, psicologia, neuropsicologia, fisioterapia, terapia ocupacional, Integração Sensorial (IS) e serviço social. E ao lado da Ueafto, existe o Espaço Maternar do Centro Saúde Escola (CSE) do Marco, que possui entre os seus profissionais, pediatras, assistente social e nutricionista que também auxiliam com os atendimentos à população.
Luciane Veiga da Silva, mãe do Miguel de 11 anos, paciente desde um ano e meio de vida na Ueafto, contou que "ele já passou por todas as equipes de atendimento multiprofissional, e já superou muitos desafios. Sempre somos muito bem atendidos. A Uepa faz parte da nossa vida".
A gerente geral do CER III, Ana Irene Alves de Oliveira, destaca a abordagem multidisciplinar focada no desenvolvimento de habilidades para promover a autonomia dos pacientes. Ela ressalta a importância da avaliação precoce e dos protocolos padronizados para oferecer o melhor cuidado possível."Realizamos avaliação para detectar precocemente o Transtorno do Espectro do Autismo. Utilizamos protocolos padronizados e observações clínicas para desenvolver o melhor raciocínio clínico. Além disso, temos um programa de vigilância do desenvolvimento que visa detectar de forma precoce algum transtorno".
Nos últimos dois anos, 2.948 pacientes autistas foram atendidos na unidade, de acordo com os dados da consolidação de produção da Ueafto/ CER III. A professora detalha que a avaliação multidisciplinar é abrangente. "Utilizamos abordagens com base em evidências científicas como a abordagem comportamental com Análise do Comportamento Aplicado (ABA); orientações à família; Tecnologia Assistiva; e terapia de Integração Sensorial, entre outras".
Integração Sensorial
A Uepa é a única universidade no Pará que oferece gratuitamente a terapia de IS. A Teoria de Integração Sensorial foi desenvolvida na década de 1960, a partir de evidências científicas, pela terapeuta ocupacional, psicóloga educacional e neurocientista Anna Jean Ayres, nos Estados Unidos. A Ueafto possui duas salas de Integração Sensorial que proporcionam estímulos sensoriais (táteis, auditivos, vestibulares e visuais) para auxiliar no processo de aprendizagem de crianças com TEA. E, em breve, mais uma sala será entregue para atender crianças pequenas de até três anos.
"Não recebemos somente pacientes com diagnóstico fechado. O fato da criança apresentar alguma alteração sensorial já permite o atendimento e, às vezes, o médico encaminha justamente para investigação clínica para concluir esse diagnóstico. Fazemos, então, uma análise do perfil sensorial", detalhou Karoline Faro, Terapeuta Ocupacional, especialista em IS.
"A Terapia de Integração Sensorial é uma abordagem inovadora realizada pelo terapeuta ocupacional que tem apresentado os melhores resultados com pessoas com TEA. A Uepa é parceira na formação de terapeutas ocupacionais para capacitar em Integração Sensorial apoiando a Certificação Brasileira em IS. A cada seis meses capacitamos, aqui na Uepa, 40 profissionais de Terapia Ocupacional em Integração Sensorial. Na Ueafto, temos oito terapeutas ocupacionais capacitados que atendem IS com certificação em IS", disse Ana Irene.
Para acesso aos serviços da Ueafto, é necessário ser encaminhado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), por meio das Unidades Básicas de Saúde (UBS), para a Ueafto, que funciona de segunda a sexta-feira, das 7h às 18h. A Ueafto fica no Campus II/CCBS situada na Tv. Perebebuí 2623, bairro do Marco, em Belém.
O TEA é caracterizado por dificuldades na comunicação e interação social, atraso no desenvolvimento motor, sensibilidade sensorial e comportamentos repetitivos. A conscientização e o apoio adequado desempenham um papel fundamental no bem-estar e desenvolvimento dessas pessoas.
Texto: Diane Maués, jornalista (Centro de Ciências Biológicas e da Saúde - CCBS/Uepa)
Foto: Sidney Oliveira (Ascom Uepa) e divulgação